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Nelcy Ferreira da Silva (*)Há décadas, alguns países tentam viabilizar a recomendação da Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saude, realizada em setembro de 1978. Expressa a Declaração de Alma Ata que os cuidados primários de saúde sejam desenvolvidos, aplicados e mantidos a todos os povos do mundo.No Brasil algumas iniciativas indicaram o amadurecimento deste processo. O movimento sanitário, as ações integradas de saúde (AIS), o sistema único descentralizado de saúde (SUDS) e em 1988, a criação do SUS, coroou a intenção. Foi desenhado por princípios ideológicos de universalidade, equidade, integralidade, entre outros, e organizacionais de regionalização, hierarquização e descentralização, prevendo complementaridade dos serviços e ampla participação comunitária. Mas o modelo assistencial de saúde precisava ser revisto. Era centrado na doença, no hospital e no médico; privilegiava o curativo em detrimento do preventivo. Foi criado então o Programa de Saúde da Família (PSF).Entendido como estratégia para responder às necessidades de uma atenção integral desenvolvida por equipe multiprofissional, ao indivíduo e à comunidade, o PSF prevê intensa participação da comunidade, com objetivo de implementar os princípios do SUS de integralidade, universalidade, eqüidade e participação social. Para ampliar a abrangência e o escopo das ações de atenção básica, bem como sua resolubilidade, por ato do Ministro da Saúde, foram criados os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), através da portaria nº 154 em janeiro de 2008.Com a intenção de instituir a plena integralidade do cuidado físico e mental do usuário do Sistema Único de Saúde, a norma, em seu primeiro considerando, refere o artigo 198 da Constituição do Brasil, já nele explicitando a composição dos núcleos por profissionais de diferentes áreas de conhecimento.Os núcleos não se constituem em porta de entrada do sistema, mas sim de apoio às equipes de saúde da família e às unidades básicas na qual eles estarão cadastrados. Assim, o acolhimento ao usuário do SUS se traduz em responsabilização compartilhada entre as equipes de saúde da família e a equipe do NASF. Dessa maneira é possível ampliar o vínculo com os diversos atores e assegurar a articulação com a rede de saúde para garantir os encaminhamentos e acompanhamento dos referenciados para outros níveis de atenção à saúde de maior complexidade.Nas equipes dos núcleos, o nutricionista está previsto nas três modalidades, NASF 1, 2 e 3. Atualmente, é o terceiro profissional mais presente nestes espaços. Em maio de 2010, os nutricionistas estavam presentes em 74.5% das 1157 equipes de NASF inseridas no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) em todo o país. Eram 862 nutricionistas credenciados e 25 ainda sem credenciamento. Esta presença ultrapassa 85% em Estados como Amapá, Paraíba, Paraná, Pará, Piauí e Bahia. Sua participação no conjunto de profissionais contratados para 40 horas semanais tem sido de 17,1% neste ano de 2010. Se considerar que a maioria das equipes está lotada nos núcleos do tipo1 e estes, por disposição legal, devem ser compostos por, no mínimo, cinco profissionais não coincidentes, o nutricionista foi acolhido pelo gestor também neste foco de análise.O consolidado no mês de agosto deste ano pelo Departamento de Atenção Básica do Ministério da Saúde (DAB/MS) aponta 2623 núcleos entre os credenciados e implantados, com evidente concentração na região nordeste (46.6%), seguida da região sudeste com 30.1% dos núcleos. A região norte contava apenas com 186 núcleos, 7.1% do total dos NASF no Brasil, concentração semelhante à das regiões sul e centro-oeste. Ainda na região norte, quando observada a maioria de seus estados, em maio deste ano, no que diz respeito a decisão de seus gestores para compor as equipes dos núcleos, os dados confirmam a presença do nutricionista com freqüência superior a 80% das equipes. No outro olhar, constata-se que Minas Gerais, Ceará e São Paulo são os estados com os números mais elevados de núcleos, 439, 272 e 256. No entanto, com percentuais de inserção do nutricionista todos abaixo da média nacional.Estas informações são úteis às entidades de nutricionistas assim como às instituições formadoras. À luz delas os rumos podem ser mudados e suas ações redirecionadas.Em outubro de 2008, ano de edição da portaria que criou os NASF, o Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) construiu, em parceria com docentes e pesquisadoras do Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição (OPSAN), um documento de posicionamento sobre o papel da Nutrição como área estratégica da Atenção Primária de Saúde. Tendo o objetivo de contribuir com a ação governamental, sugerindo a adoção efetiva de ações de alimentação e nutrição na atenção primária, “O Papel do Nutricionista na Atenção Primária à Saúde” já está em sua segunda edição e entregue a todos os gestores municipais, estaduais e federais da área de saúde do país. A Coordenação Geral da Política de Alimentação e Nutrição (CGPAN), o OPSAN e a OPAS criaram uma rede de relacionamento, a RedeNutri, com a missão de constituir espaço para problematização, formulação e troca de experiências relacionadas à implementação da Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) e suas diretrizes. A dinâmica de trabalho utilizada na rede produz ao final de cada bloco de discussão um documento sistematizando as contribuições dos participantes. Os relatos sobre as ações de alimentação e nutrição que estão sendo realizadas por nutricionistas nos NASF expressam, entre outras, distância entre a formação e a necessária prática na prestação da atenção à saúde e aos usuários do Sistema. Esta distância provavelmente está sendo ampliada se considerarmos a irresponsável decisão do Conselho Nacional de Educação (CNE), corroborada pelo Ministério da Educação, ao definir o mínimo de 3200 horas para os cursos de graduação em Nutrição, através da resolução nº 4 de 6 de abril de 2009. Se anterior à norma, a organização curricular de muitos cursos já não contemplava conteúdos capazes de qualificar esta prática profissional, pós-resolução muitos cursos já estão ajustando o currículo à carga horária mínima, excluindo temas importantes da graduação do nutricionista.Fato é que o gestor público e a sociedade reconhecem a necessidade da presença do nutricionista na equipe, é preciso qualificar e humanizar o cuidado nutricional na atenção básica à saúde, para que o nutricionista na equipe possa acolher os usuários do SUS.Referências bibliográficas:- Ministério da Saude. Portaria nº154, 24 de janeiro de 2008. Cria os Núcleos de apoio à saúde da família. Brasília, 2008.- Cartilha da Política Nacional de Humanização: acolhimento com classificação de risco. Brasília, 2004.- Política Nacional de Humanização (PNH): HumanizaSUS - Documento-Base. 3. ed. Brasília, 2006. SCNES- Departamento de Atenção Básica. Planilhas Equipes de NASF e profissionais cadastrados nas equipes de NASF, por Estados, Brasil: 2008, 2009 e 2010. Brasília, 2010.- Rede de Nutrição do Sistema Único de Saude. Texto de sistematização05: Como estão sendo realizadas as ações de alimentação e nutrição nos Núcleos de apoio a Saude da Família? Brasília. Disponível em http://nutricao.saude.gov.br/nutricao/redenutri/. Acesso em 16 de setembro de 2010.- RECINE, Elisabetta. O papel do Nutricionista na Atenção Primária à Saude. Org. Conselho Federal de Nutricionistas. 2ªedição. Brasília, 2009. (*) Professora aposentada/UFF, Especialista em Saúde Pública/ENSP/FIOCRUZ, Mestre Gestão em Saúde e Segurança no Trabalho/UFF
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