De olho na segurança dos alimentos em camarotes no Carnaval 2013
Postado em 04/02/2013 | fonte - CRN5

"Todos os camarotes do Carnaval de Salvador deveriam contratar pelo menos um Nutricionista", defende a Nutricionista e Gastrônoma Euzélia Lima Souza, que há seis anos trabalha no camarote de uma renomada artista baiana, com o reforço de outras três colegas de profissão, durante a Folia Momesca. Infelizmente, ainda são poucos os camarotes que fazem isso, "mas este quadro pode mudar se os responsáveis por estes espaços vips entenderem a importância de nossa presença profissional", acredita.

Apesar de ser um trabalho árduo, caracterizado por inúmeros desafios, trabalhar no Carnaval pode ser um trabalho compensador. Além de zelar pela saúde de um grande número de pessoas, "devido à grande responsabilidade que assume, um nutricionista que atua em camarotes recebe por alguns dias de trabalho a remuneração equivalente a pelo menos três meses do salário médio pago por restaurantes em dias comuns", pontua a nutricionista.

Nos camarotes, os riscos para a saúde pública são maiores do que em um restaurante. "Por noite, estes espaços recebem um público médio de duas mil pessoas, que se reúnem com o intuito de se divertir e raramente se atentam para a qualidade do que estão comendo ou bebendo, mas que de modo algum desejam sofrer uma toxinfecção alimentar. Ninguém quer que a festa acabe antes do tempo por este motivo", afirma a nutricionista Lindanor Santana Neta, conselheira do CRN-5 que também já trabalhou em camarotes no carnaval.

ATIVIDADES

Segundo Euzélia Souza, o nutricionista é o profissional responsável por monitorar a qualidade sanitária dos alimentos servidos nos camarotes desde sua origem e manipulação até a distribuição, durante todos os dias da folia. "Nosso trabalho começa pelo menos um mês antes do início da festa, pois precisamos orientar fornecedores, solicitar adequações do local como, por exemplo, a lavagem de tanques (se for o caso), entre outras atividades", conta.
Durante a festa, a refrigeração dos produtos que exigem temperaturas mais baixas, a exemplo dos antepastos (queijos e saladas), e o controle das estufas para as que precisam ficar em temperaturas mais altas estão inclusos na lista de atividades sob responsabilidade de nutricionistas. Além disso, o monitoramento nos buffets deve ser feito regularmente através dos termômetros para aferições internas da temperatura dos alimentos e qualquer produto deve ser recolhido antes mesmo de chegar próximo à zona de risco. "Para obter sucesso em nossa atuação, precisamos estar atentos à Resolução (RDC 216/2004) da Anvisa que estabelece as Boas Práticas para os Serviços de Alimentação", destaca Lindanor Santana.

Para a nutricionista Euzélia Souza, felizmente, a fiscalização que a Vigilância Sanitária faz durante o Carnaval é bem rígida. "Quando os fiscais encontram um camarote com nutricionista geralmente percebem o diferencial em relação aos que não contratam este profissional e os elogios são inevitáveis. Não é raro estes mesmos fiscais incentivarem a contratação de nutricionistas por camarotes que ainda não se atentaram para esta necessidade", conta.

LOGÍSTICA

Nos camarotes, geralmente, a maior parte das refeições é produzida por grandes restaurantes e/ou renomados chefs, e entregues pré-preparados. Nas cozinhas dos camarotes, os pratos são apenas finalizados. Mas há exceções: no camarote de uma prestigiada revista, o­nde a nutricionista Patrícia Lima Souza trabalha, por exemplo, o sarapatel é feito na cozinha do próprio camarote, na hora de servir, para evitar contaminações. "Orientamos que até a massa de um ‘famoso' acarajé seja acondicionada no gelo, para melhor conservação. Ao contrário do que muita gente pensa, este cuidado não faz a massa ‘desansar' ", relata. As frutas frescas (pêra, uva, maçã, ameixa, tangerina) e secas (damasco, tâmara e ameixa), introduzidas no cardápio do camarote pela nutricionista juntamente com oleaginosas (castanhas, pistache), são higienizadas no próprio camarote. "Além de serem saudáveis, estes alimentos garantem energia imediata para os foliões", destaca.

Outro cuidado que o (a) nutricionista em camarote deve ter está relacionado à comunicação dele(a) com gestores, fornecedores, equipe de trabalho (manipuladores de alimentos) e foliões/consumidores. "Quando atuei em camarote, espalhamos cartazes de apoio em locais estratégicos para alertar a equipe, a todo o tempo, sobre aspectos relevantes como higienização das mãos, higienização de frutas e hortaliças, temperatura dos alimentos, entre outros", lembrou Lindanor. Atitudes como esta revelam que a presença do nutricionista no Carnaval é uma responsabilidade social. "Espero, sinceramente, que os organizadores destes espaços tenham, cada vez mais, esta consciência", diz Lindanor.

DESAFIOS

A maior dificuldade a ser superada é, sem dúvida, a conscientização das pessoas em relação à importância das orientações relacionadas à manutenção da qualidade higiênico-sanitária dos alimentos e do local o­nde estes são manipulados. "Se vejo que a temperatura de conservação dos sushis, por exemplo, está acima dos 5º C (cinco graus Celsios), faço o descarte em sacos especiais, para prevenir possíveis toxinfecções. Nem sempre atitudes como esta são bem vistas", exemplifica a nutricionista Euzélia Souza.

A infra-estrutura de um camarote, por melhor que seja, não pode ser comparada a de um bom restaurante. A adaptação do espaço deve ser feita da melhor forma possível, de modo a permitir o desenvolvimento dos trabalhos de acordo com o que preconiza a legislação sanitária. Também é importante considerar que no carnaval, a possibilidade de surgimento de imprevistos é muito maior. Não deve, mas pode acontecer de faltar luz, água, gás, equipamentos de proteção individual (EPIs) e materiais importantes. "Neste caso, é fundamental usar o bom senso, sem deixar de lado a responsabilidade e a ética profissionais", conclui Lindanor Neta.